SOMOS DO ESTOFO DE QUE SE FAZEM SONHOS

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CENTRO DE PRODUÇÃO CULTURAL

TROILO E CRESSIDA




Shakespeare: Ai de mim! Escolhestes Troilo e Cressida, entre toda minha obra? Porquê, eu digo. Não escutai os rumores? Percorrem todo o reino através do vento congelante da madrugada. É uma peça problema, ninguém se atreve a montá-la. Dizem que tem uma grande maldição por de trás...  


Bete Dorgam: Discordo William, acho o texto super atual, temos que encontrar as questões que estão nas entre linhas do que você escreveu. Quero fazer um circo naquele acampamento grego, quero uma banda, vou bagunçar tudo. Você vai gostar. E outra coisa, a peça que tem maldição por de trás, se chama  Macbeth. Guarda essa pena ai. E me deixa trabalhar que o tempo é curto.





HISTÓRIA
por Rafael Antonio Blanco


Shakespeare deve ter tido alguns relativos fracassos no teatro, assim como enormes sucessos. Tróilo e Créssida parece ter sido um relativo fracasso, ao menos no palco, em sua forma original. É questionável se ela chegou a ser produzida. É uma peça amarga sobre uma guerra inconclusiva e um caso de amor frustrado, muito distinta de qualquer coisa que Shakespeare havia escrito antes em suas comédias e nas peças históricas Inglesas. Sua sombria sátira de impasse político parece direcionada, em parte, à história infeliz da rebelião malograda do Conde de Essex em 1601; como muitos dos guerreiros em Tróilo e Créssida, Essex foi um herói manchado, o qual o carisma foi vítima de suas próprias ambições ego maníacas e do humor de ansiosa impotência que pairava sobre os últimos anos da Rainha Elizabeth. A peça é anormalmente elíptica em sua linguagem, como se Shakespeare deliberadamente adotasse um novo e contorcido estilo para expressar os paradoxos do caos político e psicológico que gostaria de descrever. Um importante tópico da peça é a fama, ou antes a notoriedade, pois a maioria dos principais personagens de Shakespeare vêm a ele na história com amadurecida identidade de anti-heróis: Créssida, a mulher infiel; Tróilo, o homem rejeitado; Pândaro, o alcoviteiro; e Aquiles, o assassino de Heitor. A linguagem de Shakespeare tem que lidar com identidades despedaçadas, com a subjetividade instável da teimosia humana, e com a exaustão espiritual e a neurose. Talvez alguns membros da audiência de Shakespeare não estavam preparados para tudo isso.
Hoje, pelo contrário, a peça goza de autoestima crítica e se mostra teatralmente poderosa. O que percebemos é que a argúcia sagaz, sua representação satírica da guerra e seu retrato desalentador da infidelidade sexual pede uma resposta muito diferente daquela requerida pela apreciação de Sonho de uma Noite de Verão Como Gostais ou 1 Henrique IVTróilo e Créssida, escrita provavelmente no final de 1601, pouco antes da entrada no Registro Stationers em 1603, está afinada com o novo e mais sombrio humor emergente durante esse período da obra de Shakespeare, e da obra de seus contemporâneos.
No início dos anos 1600, a sátira dramática gozava de uma notoriedade altamente visível e repentina. Servindo, em larga parte, às audiências seletas e cortesãs, e graças a um novo ímpeto pela reabertura das companhias dos garotos atores nos teatros internos em 1599, o drama satírico rapidamente empregou o talento de Ben Jonson, John Marston e George Chapman, assim como outros dramaturgos sofisticados. Jonson lançou uma série de peças que chamou de sátiras cômicas, nas quais ele repreendia os cidadãos londrinos e presumidamente ensinava boa conduta para a corte também. A chamada Guerra dos Teatros entre Jonson, Marston e Thomas Dekker, apesar de parcialmente um conflito pessoal sem consequências, foi também um sério debate entre os palcos públicos e os mais cortesãos e seletos sobre o uso correto da sátira. Os dramaturgos públicos se queixavam da ousadia difamatória da nova sátira e eram irritados pela preferência de algumas audiências por esse novo fenômeno teatral; mesmo Shakespeare inquieta-se em Hamlet (2.2.353-79), sobre a rivalidade. Entretanto, como um artista em busca por novas formas, ele também respondeu com interesse positivo. Experimentou com um tipo de roteiro satírico jonsoniano a exposição de Malvólio em Noite de Reis (1600-1602). Tróilo e Créssida parece ter sido outro experimento mais ambicioso, compreendendo um tipo diferente de sátira, não de exibição arguciosa, mas de desilusão.




LEITURA DRAMÁTICA

Vamos estudar, e sem gaguejar heim!

















Assista um pouco do MÃOS A OBRA









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